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null Servidores compartilham experiências e formas de enfrentar preconceitos contra pessoas com deficiência

Conviver com a diversidade e compreender desafios pode contribuir para acessibilidade e inclusão  

02/12/2022 - A humanidade é diversa. E faz parte dessa diversidade o que se convencionou chamar de deficiências: impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que, em interação com barreiras, podem obstruir a participação plena e efetiva da pessoa na sociedade em igualdade de condições com as demais. 

Muitas dessas barreiras são consequências de concepções estigmatizantes construídas historicamente sobre deficiências. Desconstruí-las é necessário para promover a inclusão e enfrentar o capacitismo, palavra que traduz preconceito, discriminação ou opressão contra pessoas com deficiência. 

Os depoimentos que seguem foram dados por pessoas com deficiência que trabalham no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Elas toparam compartilhar suas histórias e experiências, que são únicas. Talvez não seja possível assimilá-las em sua totalidade. Mas no encontro com essa diversidade é que se faz possível refletir sobre movimentos necessários para a construção da acessibilidade e para a tomada de atitudes verdadeiramente inclusivas. 

imagem da servidora Carolina Rezende

“Nossa, nem parece!” 

Carolina Rezende, publicitária, mãe de três filhos, trabalha na Coordenadoria de Rádio e TV do TST. Entre suas atribuições está cuidar das transmissões ao vivo do Tribunal (como sessões de julgamento, eventos e seminários) e da atualização do canal do TST no YouTube. 

Há cinco anos, quando tinha 38, ela descobriu uma perda auditiva que vem se agravando. Hoje, está em 70%. Desde então, utiliza um discreto aparelho auditivo, difícil de ser notado num primeiro olhar. E essa, diz ela, é uma barreira que enfrenta. 

Segundo Carolina, o senso comum tende a criar uma compreensão de que a pessoa com deficiência auditiva, necessariamente, faz uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou fala oralizado. “Não é o meu caso, mas eu tenho uma deficiência que me traz dificuldades”. E exemplifica: o uso de máscaras pelos interlocutores dificulta a leitura labial; o ramal que utiliza no trabalho é transferido para o celular, cuja tecnologia é adaptada ao aparelho auditivo; para certas atividades, como dormir e tomar banho de piscina, precisa remover o aparelho, o que compromete a audição de tudo o que ocorre à sua volta. 

Eventualmente, ao ouvir algo como “nossa, nem parece que você tem uma deficiência”, Carolina alerta: “nem toda deficiência é perceptível. É importante você olhar para o outro com mais cuidado”. Ela também chama a atenção para o fato de que, por vezes, se pensa que a pessoa não terá capacidade para desenvolver bem o seu trabalho em razão da deficiência. “Há uma ideia de que a pessoa tem que ser sempre amparada, apoiada. Mas, aqui, entre meus colegas, não há diferença alguma em relação ao meu trabalho”, ressalta. Carolina trabalha com áudio e imagem. O que se faz necessário para desempenhar suas funções é a adaptação de alguns espaços e tecnologias. 

Para a servidora, é importante compreender que todos estamos vulneráveis, e o desafio é tratar as deficiências com naturalidade. “Tentar levar sua vida bem não é mérito nenhum. Isso aqui é mais um traço da minha personalidade. Eu não sou melhor nem pior que ninguém por causa disso. Somente preciso de alguns ajustes na minha vida”.

Ela também faz um alerta para cuidados com a audição, como evitar som alto e realizar audiometrias, a fim de detectar alterações de forma precoce. 

imagem da servidora Adriene Zema e Silva

“Meu propósito continua, a única coisa que mudou foi a questão motora” 

“Eu sou jornalista, publicitária, servidora pública, pós-graduada, remadora. A deficiência é apenas mais uma das coisas da minha vida”, diz Adriene Zema e Silva. Como servidora pública, trabalha no TST há 25 anos, hoje lotada na Secretaria da 3ª Turma. Há quatro anos e meio, sofreu uma queda que gerou uma lesão na medula e levou à perda do movimento das pernas. 

É claro que, desde então, a vida ficou diferente. “Foi uma mudança radical. Não andar é só um dos problemas. Tem a dificuldade para ir ao banheiro, a acessibilidade dos locais, a limpeza. Eu tomo medicamentos por causa das dores, que acabam afetando outras partes do corpo. Aprendi a conviver com a dor, mas tem horas que, por causa disso, tenho que parar tudo”, conta. Mas salienta: isso não é tudo sobre ela. 

Conforme Adriene, o preconceito muitas vezes vem expresso sem que se perceba. “Quando se falam coisas como ‘você é uma guerreira’, por exemplo. Eu sempre fui, todo ser humano é! Também já ouvi coisas do tipo: ‘Nossa, mas você continua alegre!’ Claro, a minha alegria não mudou. Meu propósito continua. A única coisa que mudou foi a questão motora”. 

Essas compreensões contribuem para desfazer estigmas, eliminar o capacitismo e passar a tratar as deficiências com naturalidade. “Ninguém é perfeitinho. Existem outros universos, não é um só. O normal é enxergar? Não. Existe o não enxergar. E todos precisam entender que é uma condição que pode atingir qualquer pessoa, a qualquer tempo da vida”. 

Por isso, ela também reforça a importância de criar condições que viabilizem a autonomia de quem é PcD. “Promover acessibilidade é dar autonomia. E acessibilidade é lei”. 

imagem do servidor Jader Marodim Ferreira

“Tem gente que fica com medo repentino de se comunicar comigo”

Jader Marodim Ferreira é um apreciador de cafés especiais e culinária oriental. Graduado em Direito e em Gestão Pública, é servidor do TST, no gabinete do ministro Augusto César. Ele teve meningite aos cinco meses de idade, o que ocasionou perda auditiva profunda. Hoje, ele utiliza um implante coclear, dispositivo de alta complexidade tecnológica que estimula o nervo auditivo para viabilizar a função da audição. 

“Há pessoas que agem ou falam de forma inconsciente diante das pessoas com deficiência no momento de interação. Por exemplo, no meu caso, tem gente que fica com medo repentino de se comunicar ao perceber que a minha voz é diferente ou que estou usando, na minha orelha esquerda, um implante coclear, que é diferente de outros aparelhos auditivos”, conta. 

“Como sou surdo oralizado (e não sinalizado), converso normalmente com as pessoas, com o apoio da leitura labial”, explica. Contudo, a depender do comportamento do interlocutor, a comunicação pode ficar prejudicada: se a pessoa não ficar de frente, se falar rápido demais ou não articular bem a boca, por exemplo. Por outro lado, articular as palavras de forma exagerada ou falar muito alto tornam a interação mais desagradável. Lugares barulhentos ou mal iluminados também afetam a compreensão. “É importante praticar a arte de falar com calma e usar pausas nas conversas, para que a comunicação flua melhor. Isso facilita não apenas a interação com pessoas com deficiência auditiva, mas também com pessoas de outras regiões, estados, países ou que tenham variadas dificuldades em temas diferentes”, alerta. 

Para ele, as dificuldades na interação, muitas vezes, provêm da falta de conhecimentos sobre as deficiências e as barreiras com que as pessoas precisam lidar diariamente. “Isso pode formar preconceitos inconscientes na mente daqueles que praticam atitudes ou falas capacitistas sem perceber. Eu mesmo já pratiquei alguns exemplos capacitistas no ‘piloto automático’, mas procuro me informar a respeito de outras deficiências que não tenho”, afirma. Por isso, Jader defende que o tema do capacitismo deve ser objeto de discussão e reflexão por todos, a fim de promover uma cultura de inclusão e interação.

imagem da servidora Maria Celina Gordilho“Receio pelo que podem pensar”

Maria Celina Gordilho é graduada em Direito e apaixonada pelas artes, principalmente pelo teatro. Graduada e pesquisadora em Direito, é servidora do gabinete da ministra Maria Cristina Peduzzi. Para ela, abordar com naturalidade o tema da deficiência é algo que vem trabalhando ao longo dos anos. “Tenho um pouco de dificuldade de falar. Às vezes, receio pelo que podem pensar ou pela forma como podem me tratar, como alguém de um nível mais baixo. O capacitismo começa pelo preconceito de achar que as pessoas com deficiência são menos capacitadas. E também está nisso: eu tento me inserir como uma pessoa sem deficiência, mas às vezes não dá certo”. 

Celina nasceu com uma má formação que ocasiona dificuldades de locomoção e alguns impactos na saúde física. Até os 12 anos, ela ficou em tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, referência em reabilitação de patologias neurológicas e ortopédicas. “Minha deficiência é muito rara e tem graus diversos. Até já procurei gente para conversar, mas é muito difícil. Somos invisíveis e poucos”. 

Compreender de forma cada vez mais completa os efeitos dessa condição envolve, para Celina, muito autoconhecimento. “Existem duas coisas: eu comigo mesma e eu com o mundo”, diz. E isso passa por entender mais o próprio corpo. “Tenho conseguido, entendendo que não preciso explicar tudo sempre para todo mundo, mas saber os momentos em que posso e não posso fazer as coisas que preciso. Apesar de eu não falar, de não me entender tanto como PcD, vou resolvendo. Isso é autoconhecimento, e a força que me dá para me tornar eu mesma”. 

A convivência com a diversidade, destaca, é fundamental para que as diferenças sejam naturalizadas - todas elas. Nesse sentido, para Celina, o teatro foi fundamental. “A companhia onde eu trabalhava tinha muitas crianças com diferentes tipos de deficiência. E como era agregador as crianças aprenderem a conviver com o diferente! Todo mundo era tratado com igualdade, dentro dos seus limites. Era muito lindo”, relembra. Outro ponto que destaca é a importância do cuidado com as pessoas. “A gente nunca sabe o que o outro está passando”.

“Contratam pela cota” 

Carlos Kennedy Medeiros de Lima é graduado em Gestão Pública e tem pós-graduação em Inovação e Resultados. Gosta de estar com os filhos, curtir um futebol e jogar videogame. Hoje, servidor público do TST, trabalha na Divisão de Inovação. Antes disso, passou por empresas privadas, nas quais vivenciou alguns dos desafios enfrentados por pessoas com deficiência. 

Há 15 anos, Kennedy foi vítima de uma tentativa de latrocínio. "Tive várias lesões no braço, estômago e perna. Passei por várias cirurgias e internações", conta. Por causa dos danos em nervos e estrutura óssea, seu braço esquerdo ficou com movimentos limitados, redução da força muscular e menos sensibilidade. Com isso, a estrutura do braço e da mão direita é que são mais utilizados para todas as atividades diárias. 

“Em alguns momentos, por usar o mesmo braço para digitar, desenvolvia lesão por esforço repetitivo (LER), o que exigia alguns afastamentos”, relembra. Apesar de sempre se dedicar para manter a produtividade alta, recorda que, no mercado de trabalho privado, essa situação representava ameaça ou até mesmo chegava ao desligamento. “Você percebe que contratam pela cota, mas se você tem necessidade de algum atendimento médico, acaba prejudicado”, conta. 

Kennedy considera que, no TST, são oferecidas condições apropriadas para o desenvolvimento das atividades, com apoio e sem segregação. Para ele, é fundamental que, nos espaços de trabalho, se compreenda que cada pessoa é única, com suas potencialidades e limitações. E isso vale para todos: pessoas com e sem deficiência. 

Dia Internacional das Pessoas com Deficiência

Neste sábado, 3 de dezembro, comemora-se o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Essa é uma data comemorativa internacional promovida pelas Organização das Nações Unidas desde 1992. Os objetivos são promover uma maior compreensão dos assuntos concernentes à deficiência e mobilizar a defesa da dignidade, dos direitos e o bem-estar das pessoas.

(Natália Pianegonda/GS/CF)

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